.ok. eu adoro Danuza Leão.
.e hoje, mais uma vez, ela nos brinda com mais uma ótima crônica (em sua coluna dominical na Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2007200802.htm).
.tenho sentimentos como esses no ar agora.
"Um olhar (Homens não podem nunca se atrasar, quando marcam encontro com uma mulher, isso é mau sinal)
ERA UM BAR, desses da moda, 7h da noite. Ela chegou, olhou para ver se ele já havia chegado; como ainda não, sentou numa mesa para esperar. O garçom perguntou se ela queria alguma coisa, ela pediu um drinque e acendeu um cigarro. Era uma mulher bonita, entre 25 e 30, vestida modernamente -um belo jeans, uma camisa bacana, cabelos compridos, tipo Carla Bruni. Uma mulher para ninguém botar defeito.Ele demorou uns dez minutos para chegar (o que é um mau sinal). Pediu desculpas, ela disse que não tinha importância, e a conversa começou. Uma conversa alegre, ele carinhoso com ela, e daí a pouco chegaram mais dois casais. A mesa animou, todos bebendo, falando e rindo, com ar de felicidade.De vez em quando o olhar dela ficava perdido, via-se que estava desligada, mas só por alguns segundos.Ela mesma percebia e imediatamente voltava a se integrar, contando histórias, rindo e parecendo estar se divertindo muito. A essas alturas os carinhos dele diminuíram: afinal, o grupo estava ali para se divertir, não para namorar. Num determinado momento criou-se o problema: onde iriam jantar? Cada um deu seu palpite; esse não, porque era depressivo, o outro não, porque se comia mal, até que chegaram a um acordo.Pediram a conta e se foram.Fiquei pensando nela, que marcou um encontro e ficou sozinha esperando que ele chegasse. Homens não podem nunca se atrasar, quando marcam encontro com uma mulher, isso é mau sinal. E ela, como toda mulher, sabia disso.Continuei pensando: apesar do atraso, por que o olhar dela se perdia às vezes, ficava vago? Por que ela não estava como os outros, rindo de verdade, se divertindo de verdade?Bonita como era, com um homem também bonito ao lado, com a noite pela frente, indo jantar num lugar certamente agradável, o que se passaria com ela? Estaria apaixonada por outro? Ou talvez com algum problema do qual não poderia falar, pois nesses encontros só se pode falar de coisas alegres, divertidas, que façam rir? Teria perdido o emprego?Ela não parecia ser uma mulher que trabalhasse, mas sim daquelas que passam a juventude saindo todas as noites para namorar, dançar, se divertir. Mas aquelas ausências, que ninguém percebia, sei lá; porque nas mesas em que todos riem tanto, ninguém na verdade presta atenção em ninguém. Essas noites não são feitas para isso.Continuei pensando, e tive uma certeza. Poderia estar enganada, mas para mim era uma certeza. Ela sabia que aquela noite, que teoricamente era tudo que uma mulher como ela poderia querer, não levaria a nada. Nem a noite da véspera nem a do dia seguinte, nem a vida que estava levando.Pobre moça; tão bonita, e tão sem rumo. E sem nenhuma condição -ainda- de mudar, por não ter a menor idéia do que queria da vida. E enquanto isso não acontecesse -se acontecesse um dia-, ia continuar saindo todas as noites, rindo sem vontade, fingindo se divertir, fingindo ser feliz.E descobri que olhar era aquele: era um olhar sem nenhuma esperança. "
.abraço.
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